domingo, 2 de dezembro de 2012

Zeca Baleiro


Ontem, aqui em Campo Grande, na Livraria Leitura, organizado por Pietro Luigi – esse carioca que contribui para a cultura sul-mato-grossense – Zeca Baleiro autografou seu CD “O disco do ano”. Não pude estar presente, a responsabilidade com minha clínica, com meus pacientes, a quem escuto suas dores de viver, não me permitiu estar presente a um evento de meio de tarde. Porém Pietro pediu a Baleiro autógrafo em dois CDs, o meu e o de presente que darei. E no meu, conto para vocês com toda a metidez, Zeca Baleiro escreveu: Para Andréa Carla,  calor, prazer, poesia. Achei lindo, lindo. Só não gostei do calor, mas na virada do ano, quando estiver no meio do gelo, seus votos vão me esquentar. Aqui em Campo Grande não precisa

Estou brincando, na verdade sei que para esse poeta, o calor que ele deseja é a paixão de viver, a alegria, como ele escreve a seguir, o prazer e a poesia de viver.

Adoro a musicalidade de Zeca Baleiro, mas sobretudo as letras de sua música, por sua poesia e pelas brincadeiras que ele faz com as palavras, jogando com a homofonia em vários idiomas. Um grande poeta do Brasil, e além do mais, um poeta com ritmo.  Coisa ímpar nesse momento de Tum Tum Tum.

Vejam que poemas nesse CD: “[coração] Bandido cansado de enganos. Herói de capa e espada na mão. Esquece metas retas e planos. Veleja no mar escuro da ilusão”. Essa estrofe é da canção “Calma aí, coração”.  E a faixa 10 é a música “Felicidade pode ser qualquer coisa”.  Ele diz que se você quiser ser feliz, tente. Felicidade pode ser qualquer coisa, um futebol na tarde de domingo – isso só se for para os homens – um beijo, um orgasmo, uma cachaça. Está certo, felicidades muito masculinas. Mas na última estrofe, ele é universal: Vida eterna é vida de sonho, Deus é o tempo, sonhar é a salvação. O sonho de Lennon morreu. O meu não”.

E na música desejo, escutei lembrando do que Lacan escreveu: o artista sabe o que o psicanalista ensina. A vida segue e não estanca o corte, a peleja. “Você faz planos, planeja, deseja e o desejo sangra. Quer uma casa em Angra. Quer carro i-pad família. Filhos na universidade.” E segue mostrando um sujeito que acha que desejo são coisas, aquisições que se vai tendo na vida. Mas tem a falta a falta, a falta, a falta, que a vida devasta. Assim, uma falta repetida quatro vezes na música e milhões de vezes na vida inteira. Assim, eu entendi a repetição . Ao final, conclui que a paixão não pode morrer. “Pra todo mal vem um bem. E tudo mais é essa dura dura peleja”.

 

 

 

2 comentários:

  1. Sensível o seu texto Andrea, pequeno e certeiro... perdi o Baleiro em CGR tb e nem tive a sorte de ganhar autografo! :( mas fica a esperança de um retorno em breve.

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