sábado, 28 de maio de 2016

Shackleton, um líder como poucos






           Se você quiser ir ao fim do mundo, ou a qualquer lugar perigoso, inóspito, que explore todos os limites do corpo humano, pense bem em quem será o chefe da expedição. Se não for alguém com toda a perseverança, determinação, decisão, coragem, de Shackleton, você estará morto. Além dessas qualidades, tratava seus subordinados com respeito, tinha muito saber sobre os mares e confiança no que fazia. Se não fosse tudo isso, a equipe teria se dispersado, não respeitado as normas estabelecidas e estariam todos mortos. Aliás, tinham tudo para estarem mortos, mas sobrevieram. Voltaram do naufrágio mais de um ano depois, quando o resto do mundo já os tinha dado como mortos. Essa história foi contada por Alfred Lansing, em 1959, mais de quarenta anos depois, em um relato maravilhoso. Não consegui desgrudar do livro um minuto.

          No verão de 1914, o navegador inglês Shakleton e mais vinte e sete homens, sua tripulação, partiram da Inglaterra em direção à Antártica, no navio Endurance. Navio novo, construído especialmente para essa viagem, para suportar gelo e ventos do pólo sul e que mesmo assim, não resistiu. Chegaram nas ilhas da Geórgia do Sul e de lá partiram em outubro em direção ao destino final. Antes do final do ano, e um dia antes de chegar lá, o navio ficou preso em enormes bancos de gelo


          Ficaram semanas encalhados, e um dia o navio começou a fazer barulhos horríveis: estava sendo triturado pelo gelo. Começaram a desembarcar, com provisões e tudo que fosse necessário para viver sobre uma banquisa de gelo. Retiraram três navios pequenos e fizeram um acampamento sobre o gelo. Assim viveram quase um ano. Quando a banquisa começava a rachar, mudavam para outra. Dormiam nos sacos de dormir, ensopados de água, matavam pinguins, focas, leões-marinhos para complementar a comida que conseguiram tirar do navio. Tudo racionado, organizado para sobreviverem até o gelo se deslocar o suficiente e alcançarem mar aberto. Só daí poderiam navegar nos barcos até alguma terra firme. Não sentiam fome, a não ser por um momento, mas morriam de frio. E o vento os torturava o tempo todo, cortava seus rostos, endurecia seu corpo, por vezes com risco de impedir a circulação e causar gangrena. Só um deles teve o pé gangrenado e o médico da equipe teve de amputá-lo. Mesmo assim, sobreviveu. todos sobreviveram.


          Em abril de 2016 o mar se abriu o suficiente para que alcançassem mar aberto. Os vinte e oito homens navegaram com navios pequenos no pior mar do mundo até a ilha Elefante. Depois de semanas nessa travessia, combatendo ventos gigantescos que os fazia desviar do destino, os arrastava para outro lado, chegaram a essa ilha. Depois de mais de 400 dias, estavam em terra firme pela primeira vez. Uma ilha pequena, vulcânica, fora de rota de navios, mas sentiram-se chegando a um paraíso. Dormiram depois de semanas em barco, Se demorassem mais um dia, estariam mortos, pois a água e a comida já tinha acabado. Esticaram o corpo, dormiram o sono dos anjos. Descansaram. Dias depois, Shackleton e mais seis homens partiram em busca de ajuda, em um dos barcos. Atravessaram a Passagem de Drake, o pior mar do mundo. Foi um esforço sobre-humano. E um bocado de sorte, também. 


          Os homens que ficaram na Ilha Elefante os esperavam de volta - caso conseguissem chegar vivos às ilhas da Geórgia do Sul - até meados de agosto. Só chegaram meses depois.
            Quando Shackleton e seus homens chegaram às Ilhas Geórgia do sul, aportaram em um lado da ilha contrário onde ficava os acampamentos de pesca baleeira, que era habitado. O leme do navio se partiu e a única saída era atravessar a ilha à pé, coisa impossível até o momento, pois a ilha era composta de montanhas altíssimas e geleiras. Mas Shakleton e mais dois homens o fizeram e três dias depois, chegaram ao acampamento. Com o rosto preto de gordura dos animais que comiam, cortados pelos ventos, cabeludos, sujos, despenteados, chegaram vivos.


          O último passo foi retornar à ilha Elefante para resgatar os outros homens. Enquanto esperava chegar outro navio da Inglaterra, Shakleton conseguiu emprestado um navio argentino, que não conseguiu se aproximar da ilha. Uma camada de gelo se formou em volta da ilha e nenhum navio conseguia se aproximar. Os homens na ilha achando que Schakleton e seus companheiros tinham morrido e Shackleton mais de um mês tentando se aproximar da ilha e sem conseguir. Depois do navio argentino que quase afundou nas proximidades da Ilha Elefante, Shackleton conseguiu um navio baleeiro emprestado do Chile e com ele se aproximou da ilha e resgatou todos seus homens. 

          Só para terminar, duas coisas. Uma é engraçada: o cozinheiro da tripulação, perguntou a todos os homens o que eles gostariam de comer se pudessem escolher algo naquele momento. Todos pensaram em doces, absolutamente todos: pudim, manjares, mingau, bolos, etc. A segunda coisa é que essa história virou filme, chamado Shackleton, com Kenneth Branagah. Para quem não quiser ler esse livro imperdível, e logo passar ao filme.

                                                         Shackleton



Paris, o Rio Reno e Zinedine Zidane - crônica dessa semana



http://www.midiamax.com.br/variedades/sobre-mitos-historias-reno-rio-une-povo-separa-duas-nacoes-302214

Viajando pelo Mar Báltico



http://www.midiamax.com.br/variedades/arte-viajar-descobrir-mar-baltico-historias-nao-estao-guias-turisticos-301353

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A bagagem do viajante dessa semana

http://www.midiamax.com.br/variedades/viajar-permitir-se-descobrir-mundo-derrubar-muros-medo-300445

A bagagem do viajante

Semana passada, 03 de maio, comecei a escrever crônicas sobre viagens para o Midiamax. A seção chama-se "A bagagem do viajante". Tento responder o que um viajante traz em sua bagagem. Não o turista, mas o viajante.

http://www.midiamax.com.br/variedades/brasil-foi-noticia-dias-portugal-reacoes-foram-indignacao-deboche-299649