Na Revista Bravo deste mês, a
capa é Gilberto Gil com uma das frases dele dadas em entrevista à Bravo: “Eu
não existiria sem Gonzagão”. A entrevista de Gil aparece logo depois da matéria
sobre Luiz Gonzaga. Seu centenário tão comemorado é uma homenagem que o Brasil
presta a esse grande músico, que foi influência para tantos músicos que vieram
depois dele. Para encerrar a entrevista, a Bravo fez uma pergunta besta a
Gilberto Gil: Michel Teló não existiria sem Gonzaga? Que Gil responde
rindo: “Eu não existiria sem Gonzaga! Imagine o Michel Teló, que pintou bem
depois.”.
Não entendi porque o jornalista
Armando Antenore simplesmente ignorou em sua matéria o filme de Breno Silveira
“Gonzaga de pai para filho”, filme visto por mais de 1 milhão de pessoas. Não gosto
quando uma matéria faz uma coisa dessas.
Uma coisa importante que a
matéria conta: que Luiz Gonzaga, caminhando por uma rua de Fortaleza, entrou em
uma loja e tirou o último LP de Caetano Veloso da prateleira – Caetano estava
fora do país, exilado, pela perseguição política destes tristes tempos do
Brasil – e se emocionou ao ver que no disco com todas as novas músicas de
Caetano, havia uma exceção: Caetano cantava Asa Branca, essa música linda, com letra de Gonzaga e Humberto
Teixeira e divulgada para os quatro cantos do mundo por Gonzaga.
Mas eu vou fazer minha homenagem
agora a Gonzaga, comentando sobre o filme de Breno Silveira, que eu
simplesmente adorei, me emocionei, lembrei de meus anos de faculdades e morri
de saudades de Gonzaguinha.
Gonzaga de pai para filho retrata a vida de dois artistas
fundamentais para nosso país e mostra os dilemas de uma relação tão complicada
entre pai e filho, repleta de desavenças, decepções, mas de um amor muito
grande que os une. E também um amor muito grande pelas raízes. Em Gonzaga, o
amor pela terra, o sertão pernambucano, que ele leva consigo para onde
vai. E por seu pai Januário, que lhe
ensinou ainda menino a arte da sanfona e que lhe diz uma frase importante,
prova do amor de um pai: quero que você seja feliz meu filho. A matéria da
Bravo reproduz uma foto de um show de Gonzagão tocando sanfona com seu pai
Januário.
Gonzaguinha é mostrado no filme
como o menino órfão de mãe, afastado do pai, que peregrinava pelo Brasil,
divulgando sua arte e que não queria o filho envolvido com a música, o queria
doutor, com diploma. Foi criado pelos amigos do pai, por Dina, que Gonzaguinha
chamará de mãe, eternizada em suas músicas: “O Dina teu menino desceu o São Carlos, pegou um sonho e partiu.
Pensava que era um guerreiro. Com terras e gente a conquistar...”.
O filme dá uma versão que não
sabemos o tanto que é verdadeira, mas que fica linda na história: que Gonzaga
precisava se “tornar alguém” em busca de reconhecimento, pois amava a filha de
um coronel, para quem ele era um menino pobre, mulato, sem eira nem beira. Caiu
no mundo para estar à altura de sua amada. Porém, o grande amor que fica,
também, evidente, é o de Gonzagão pelo Nordeste, sua terra, suas raízes, sua
gente.
Os atores que fazem Gonzagão
são muito bons. Sobretudo Nivaldo Expedito de Carvalho, que faz o Gonzagão
jovem. Ele tem um carisma tão grande, que quando sorri ilumina a tela. Ele e o
ator que faz Gonzaguinha, Julio Andrade. É um Gonzaguinha encarnado espantosamente, com seus gestos,
com seu olhar por vezes raivoso. Julio Andrade incorporou Gonzaguinha.
Passei os anos de faculdade
escutando Gonzaguinha em um velho Gradiente, adorava e adoro suas músicas,
letras de rebeldia, amor, hino à vida, que é bonita, bonita, e que ele não
cansava de cantar. Em um domingo de manhã, com aquele chamado da TV Globo, que
já sabemos que é prenúncio de desgraça, fiquei sabendo da morte de Gonzaguinha,
perto de Pato Branco, no Paraná, cidade que eu conhecia, perto de onde vive
meus tios, as raízes de meus pais, morreu em 1991 um dos maiores cantores e
letristas do Brasil. Chorei como se fosse da família. Minha amiga Marta Senghi
chorou quando Renato Russo morreu, para mim, o sofrimento foi a morte de
Gonzaguinha. Sua obra fez de sua vida muito mais do que um nada no mundo.
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...
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