domingo, 9 de dezembro de 2012

O centenário de Luiz Gonzaga


Na Revista Bravo deste mês, a capa é Gilberto Gil com uma das frases dele dadas em entrevista à Bravo: “Eu não existiria sem Gonzagão”. A entrevista de Gil aparece logo depois da matéria sobre Luiz Gonzaga. Seu centenário tão comemorado é uma homenagem que o Brasil presta a esse grande músico, que foi influência para tantos músicos que vieram depois dele. Para encerrar a entrevista, a Bravo fez uma pergunta besta a Gilberto Gil: Michel Teló não existiria sem Gonzaga? Que Gil responde rindo: “Eu não existiria sem Gonzaga! Imagine o Michel Teló, que pintou bem depois.”.

Não entendi porque o jornalista Armando Antenore simplesmente ignorou em sua matéria o filme de Breno Silveira “Gonzaga de pai para filho”, filme visto por mais de 1 milhão de pessoas. Não gosto quando uma matéria faz uma coisa dessas.

Uma coisa importante que a matéria conta: que Luiz Gonzaga, caminhando por uma rua de Fortaleza, entrou em uma loja e tirou o último LP de Caetano Veloso da prateleira – Caetano estava fora do país, exilado, pela perseguição política destes tristes tempos do Brasil – e se emocionou ao ver que no disco com todas as novas músicas de Caetano, havia uma exceção: Caetano cantava Asa Branca, essa música  linda, com letra de Gonzaga e Humberto Teixeira e divulgada para os quatro cantos do mundo por Gonzaga.

Mas eu vou fazer minha homenagem agora a Gonzaga, comentando sobre o filme de Breno Silveira, que eu simplesmente adorei, me emocionei, lembrei de meus anos de faculdades e morri de saudades de Gonzaguinha.

Gonzaga de pai para filho retrata a vida de dois artistas fundamentais para nosso país e mostra os dilemas de uma relação tão complicada entre pai e filho, repleta de desavenças, decepções, mas de um amor muito grande que os une. E também um amor muito grande pelas raízes. Em Gonzaga, o amor pela terra, o sertão pernambucano, que ele leva consigo para onde vai.  E por seu pai Januário, que lhe ensinou ainda menino a arte da sanfona e que lhe diz uma frase importante, prova do amor de um pai: quero que você seja feliz meu filho. A matéria da Bravo reproduz uma foto de um show de Gonzagão tocando sanfona com seu pai Januário.

Gonzaguinha é mostrado no filme como o menino órfão de mãe, afastado do pai, que peregrinava pelo Brasil, divulgando sua arte e que não queria o filho envolvido com a música, o queria doutor, com diploma. Foi criado pelos amigos do pai, por Dina, que Gonzaguinha chamará de mãe, eternizada em suas músicas: “O Dina teu menino desceu o São Carlos, pegou um sonho e partiu. Pensava que era um guerreiro. Com terras e gente a conquistar...”.

O filme dá uma versão que não sabemos o tanto que é verdadeira, mas que fica linda na história: que Gonzaga precisava se “tornar alguém” em busca de reconhecimento, pois amava a filha de um coronel, para quem ele era um menino pobre, mulato, sem eira nem beira. Caiu no mundo para estar à altura de sua amada. Porém, o grande amor que fica, também, evidente, é o de Gonzagão pelo Nordeste, sua terra, suas raízes, sua gente.

Os atores que fazem Gonzagão são muito bons. Sobretudo Nivaldo Expedito de Carvalho, que faz o Gonzagão jovem. Ele tem um carisma tão grande, que quando sorri ilumina a tela. Ele e o ator que faz Gonzaguinha, Julio Andrade. É um Gonzaguinha  encarnado espantosamente, com seus gestos, com seu olhar por vezes raivoso. Julio Andrade incorporou Gonzaguinha.

Passei os anos de faculdade escutando Gonzaguinha em um velho Gradiente, adorava e adoro suas músicas, letras de rebeldia, amor, hino à vida, que é bonita, bonita, e que ele não cansava de cantar. Em um domingo de manhã, com aquele chamado da TV Globo, que já sabemos que é prenúncio de desgraça, fiquei sabendo da morte de Gonzaguinha, perto de Pato Branco, no Paraná, cidade que eu conhecia, perto de onde vive meus tios, as raízes de meus pais, morreu em 1991 um dos maiores cantores e letristas do Brasil. Chorei como se fosse da família. Minha amiga Marta Senghi chorou quando Renato Russo morreu, para mim, o sofrimento foi a morte de Gonzaguinha. Sua obra fez de sua vida muito mais do que um nada no mundo.

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...

 

 

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