segunda-feira, 21 de março de 2011

A situação da Argélia, a tortura e a falta de um verão

Caros, leiam um artigo do Caderno Ilustríssima de hoje da Folha de São Paulo chamado "Morrer em fogo baixo". Foi escrito pelo argelino Smail Hadj-Ali. Hoje ele é professor da Universidade francesa de Rennes. Nesse artigo ele conta a situação da Argélia e fala de seu pai que foi preso político por quinze anos e relatou em um livro o horror da tortura que escutava, presenciava E, claro, deve ter sido submetido também. Bachir Ali, o pai, escreveu na prisão: "uma causa está perdida assim que ela é defendida pela tortura". Nesse artigo, Smail escreve: "Recusando-se a responder à barbárie com a barbárie, ele dirá, num poema escrito na prisão: "Juro sobre a angústia lenta das mulheres/Que baniremos a tortura/Que os torturadores não serão torturados".
Dias atrás assisti um episódio de um quase novo seriado americano (está começando a segunda temporada no canal Liv) chamado Blue Bloods. Tendo a frente do elenco Tom Selleck, do saudoso seriado Magnum, ele é o chefe da policia de Nova York e o patriarca de uma familia de policiais. Seu filho, detetive respeitado, em uma cena, tortura um assassino, para que ele confesse onde está a garota raptada, que é salva a tempo. Tem outros momentos desse seriado dos sangues azuis da polícia em que o lema é o mesmo: em determinados casos a tortura se justifica e vale à pena. Esse é o lema americano. Abu Ghraib está ai, muito fresca em nossa memória. Estou falando da Argélia, dos EUA, mas a marca da tortura é muito intensa na história do Brasil.

Digo isso com uma certa dor no coração, no dia em Barack Obama está no Brasil. Os que me conhecem mais sabem o tanto que sou fã dele. Desde antes dele ser presidente. Acho até mais antes que agora, fã do autor, o bom escritor, o cidadão do mundo, o viajante, o homem fruto de três continentes (contando o asiático, de seu padrasto, onde viveu anos e que sabe falar a lingua)..

A dor - menos, a decepção, direi - é que esperava que Obama fizesse mais verão do que está conseguindo fazer. Um homem não muda um país, ainda mais um homem tão atípico nesse país tão previsível. Aliás, usar para Obama o ditado "Uma andorinha não faz verão" fica descabido, andorinha é muito feminino. E acho Obama muito imponente, está mais para um Condor.

E, para finalizar, desculpem-me essa mensagem meio sem propósito nesse domingo sem sol, nublado, apagado. Tivesse um verão e eu estava fazendo outra coisa.

quarta-feira, 2 de março de 2011

El infinito viajar

Em 2008, andando pelo Passeig de Gracia, descobri uma livraria, descobri um autor, descobri um livro. E uma inveja tão grande que tremeu o corpo. Claudio Magris escreveu um livro que eu gostaria de ter escrito. Nunca, com nenhum livro, senti isso antes, nem depois. "El infinito viajar" é um livro sobre a estranheza do viajante, sobre o desarraigo, sobre a condição de estrangeiro daquele que não acredita que uma pátria é um território. É um livro sobre aqueles que não têm um lugar e sentem-se estrangeiros em toda parte. É sobre aquele que "atravessando el mundo - viajando en el mundo - descubre su propria verdad, esa verdad que al principio es tan sólo potencial y latente en él y que traduce en realidad a través de la confrontacíon con el mundo". Essa também é a condição do psicanalista,

Cito mais uma parte desse livro espetacular: "Don Quijote no tiene miedo, se ofrece a la incertidumbre de vivir que le acarrea desastres, palos, porquerías y humillaciones; pero no tiene fe en la vida, que no sabe lo que hace, sino en los libros, que no dicen de la vida pero sí lo que le da sentido, su enseñas."




Foto: Alba Abreu Lima
Uma construção no Passeig de Gracia