sexta-feira, 29 de junho de 2012

Aniversário de minha mãe

Dona Eugênia, minha mãe, faz hoje 70 anos. No almoço de ontem, com filhos e netos, estávamos combinando o que fazer de almoço hoje e lá vem ela com seu jeito temperamental e suas ordens que não são desobedecidas: amanhã não terá almoço nessa casa, vou fazer minha cuca (típico bolo que os descendentes de alemães do sul fazem). E ela incrementou a receita há alguns anos atrás, colocou ricota, e fica melhor do que o que minha avó (mãe dela) e tias fazem.


Um episódio define bem minha mãe: dois anos trás, estávamos viajando, eu, ela, meu pai e meu sobrinho e teve um acidente na rodovia. Um caminhão de bebidas tombou, minha mãe abriu a porta e foi andando pela rodovia para ver o acidente. Imediatamente veio-me a lembrança o perigo disso, quantos acidentes não sabemos que acontecem com aqueles que param e andam à beira da rodovia? Rafael foi chamá-la e ela voltou. Dei uma bronca, lembrando a idade que ela tem. E ela me sai com essa: sinto-me com uns cinquenta anos. É muito curiosa!

E saúde de cinquenta ela tem. Adquiriu uma insônia e uma labirintite depois que perdeu um filho, o caçula, Osni, que partiu em 2008. Convive com uma insônia ocasional, uma labirintite ocasional, que junto com a saudade, não a deixou esquecer diuturnamente que perdeu um filho. Mas isso não lhe tirou a energia de vida que sempre teve.

Estamos proibidos de aparecer lá hoje na hora do almoço - estou em dúvida se posso ligar para dar os parabéns - mas terá um jantar e cuca de ricota depois, é claro.

Já nos disse tudo o que não quer ganhar de presente. Não gosta de coisas caras, nesse aniversário não quer flores, roupas, joías não usa. Praticamente só tive a idéia de lhe dar um chinelo de inverno, pois disso ela está precisando e não sabe.

Depois de escrever isso, afinal, nem sei mais quantos anos minha mãe está comemorando hoje.

sábado, 2 de junho de 2012

Saudades

É sábado de manhã, faz sol, faz calor e eu faço uma horinha para ir trabalhar. Sinto saudades da Bélgica, de uma janela para um canal, de andar pelas Ardennes Flamandes, dos pralinés da padaria da esquina, de viajar até uma cidadezinha próxima de Gand e, ao longe, enxergar o Mar do Norte. Sinto saudades do crepe artesanal, com geléia caseira de framboesa, feito pelas velhas senhoras flamencas; dos rodedendros nos jardins das primaveras frias. Sinto saudades da língua, do país, do povo, tão diferente de nós, brasileiros: receosos, cautelosos, mas quando abrem a casa e o coração, é uma entrega tal. Sinto saudades desse outro país, que não o meu, mas que habita em minhas lembranças.

Amanheci estrangeira.