domingo, 15 de maio de 2011

Uma Polônia surpreendente

Cheguei a Varsóvia ao meio-dia de uma terça-feira de sol. E então, pela primeira vez, a vi tal uma Fênix, renascida das cinzas, com sol, calor e sob o signo de uma cordialidade impressionante de seu povo. Como já disse anteriormente, as pessoas fazem uma cidade - creio que o contrário não acontece - e os poloneses é que fazem de Varsóvia o que ela é hoje.
Andei com minhas amigas pelas ruas novas, reconstruídas, e fomos ao principal a ser visto: o gueto. No lugar onde foi o gueto há um memorial e está sendo construído um museu para contar a história do holocausto. Passamos um dia e meio e partimos.
 A língua é dificílima - embora depois de uma semana eu já estivesse falando algumas frases. Só algumas, poucas, minguadas - mas tem uma sonoridade bonita, musical.
Mas foi em Cracóvia que o amor pela Polônia, sua gente, se intensificou. A piada que Freud nos conta pode ser entendida perfeitamente após se conhecer a cidade: um sujeito que diz que vai a determinado lugar e diz o nome, mas o outro pensa que ele vai a Cracóvia, mas está escondendo isso. Cracóvia é uma cidade para se ir. Muitas vezes, de novo, sempre. E não estou fazendo como o sujeito da piada que recalca a cidade para manter esse prazer só para ele. Eu digo abertamente: vão, vão, vão.
Pequena, antiguíssima, intocada pelos bombardeios, com construções lindas, muralhas medievais e um povo cordial, simpático, gentil. E muito bonito, também. Quando eu cometia meus sacrilégios de tentar falar polonês, riam, riam, riam, achavam graça e ficavam muito contentes da tentativa que eu fazia de falar o idioma. E me ajudavam. Sempre.
Todos são um pouco como João Paulo II, diz minha amiga Alba Abreu. Aliás, assistimos missa no sábado de aleluia na igreja central da praça, onde Carol Voitjla, o antigo papa, rezava suas missas. Ele é a imagem onipresente pela cidade toda.
O polonês é fervoroso, filas e filas para se confessarem, igrejas lotadas. Nem na Itália existe isso. Acho que em nenhum lugar...
Voltando para casa, estou relendo o livro Dos Ciudades, de Adam Zagajewski, autor ucraniano, imigrante que desde criança, viveu na Polônia, mais precisamente, na Cracóvia. Entre ´Liev, sua cidade natal, e Gliwice, primeira cidade polonesa em que viveu e entre a Cracóvia, em que passou anos, e a Paris na qual se exilou, fugindo do regime comunista, escreveu este livro. E depois de anos, retorna a Cracóvia e escreve sobre ela. Cidade explendorosa, mas provinciana, pequena e grande, ao mesmo tempo. Coloco abaixo apenas um trecho para encerrar essa minha declaração de amor pela Polônia, seu povo, sua lingua. Queria tanto ter determinação para aprender essa lingua.....

Castelo de Wawel, Cracóvia - Foto de Alba Abreu Lima


"Sí, en Cracovia, más de una cosa me pareció pequeña y provinciana, pobre y dejada de la mano de Dios. La sala del teatro Stary, donde había experimentado las vivencias teatrales más intensas, de pronto se volvió pequeña. En mis recuerdos era enorme, mientras que en realidad es diminuta.

Me paseé por Cracovia, comprobando lo mucho que había menguado. Pero, andando el tiempo, en el momento menos esperado, redescubrí mi antigua admiracíon por aquella ciudad regia. Y deambulaba por Cracovia, acusando a un tiempo su pequeñez y su grandeza, su provincianismo y su esplendor, sus miserias y sus tesoros, su vulgaridad y su excepcionalidad. Sólo de una cosa no había duda: los árboles de Planty habían crecido. Mi admiracíon estaba impregnada de escepticismo, pero los árboles se habían vuelto todavía más majestuosos, más reales." Dos Ciudades, Adam Zagajewski

Nenhum comentário:

Postar um comentário