Na semana
passada, a Itália foi notícia pelos terremotos que atingiram o centro do país,
várias cidades atingidas. Amatrice é a mais conhecida, mais turística. As
cidades atingidas ficam cerca de 100 km de Roma. Fiquei me lembrando desse país
em que estive por três vezes, por isso a crônica da semana, a primeira de
várias, tem como tema o país.
Estive na
Itália pela primeira vez em julho de 2010. Juntamente com Alba, minha amiga de
andanças pelo mundo, cortamos de trem o país de norte a sul, de Milão a Capri.
De Nápoles a Capri, de navio, claro. Em partes do trajeto tivemos a companhia
de Andréa Helena, Rainer e Inês. Depois, em 2012, nos primeiros dias de uma
primavera ainda com cara de inverno, fria e chuvosa, eu e Fabiana Silvestre
andamos pelo norte do país e chegamos a Roma para passar a páscoa. No ano
passado, novamente com Fabiana, e também Silvana e Patrícia, fomos a Milão,
Trieste, Pádua, Veneza, Livorno, depois pegamos o navio para a Córsega e
entramos novamente em solo italiano na ilha da Sardenha. De lá, da cidade de
Olbia, pegamos o avião para Roma, onde passamos alguns dias. Enfim, como se
pode ver, o país tem muitos lugares lindos para serem conhecidos. E eu,
pensando agora, tenho muitas amigas que se dispõem a conhecer o mundo, e
especialmente a Itália, comigo. Fabiana Silvestre é uma delas. Toda vez que vai
a Europa, quer ir à Itália, digo que tem outros países lindos a serem
conhecidos, mas ela quer novamente a Itália.
Antes de viajar
para lá pela primeira vez, estudei muito sobre o país e li romances que se
ambientavam no solo italiano. Conto aqui um pouco como foi minha primeira
andança em terras italianas. Li o que dois autores escreveram sobre a Itália:
Rainer Maria Rilke e Stendhal. Nenhum deles italiano, mas estrangeiros que se
apaixonaram pelo país. Como eu. Que me desculpem a comparação presunçosa.
A paixão do
escritor Stendhal pela Itália é bem conhecida. Por todo o país, pela sua
história, pelo temperamento dos italianos. Em contraposição a sua França, à
época de Napoleão. Ele escrevia que enquanto a Itália produzia os Rafael, os
Ticiano, Correggio, Petrarca, a França produzia "esses bravos capitães do
Século XVI, hoje tão desconhecidos, que mataram tantos inimigos".
Ele dizia que
em contraponto ao motivo monetário das guerras da França, da Inglaterra e da
América, os italianos disparavam tiros por motivos passionais. Na verdade, ele
ressalta muito esse caráter passional dos italianos.
Isso já é
notório, o temperamento dos italianos. E no país todo. Talvez mais ainda no sul.
Os italianos são acolhedores, mas exagerados, brigam alto nas ruas, gesticulam.
São curiosos. Um exemplo, mas poderia dar vários: estava no supermercado,
escolhendo alguns cachos de uva e um senhor chega falando alto comigo,
praticamente gritando. Eu demoro para entender que ele estava dizendo, na “briga”
comigo, que eu estava comprando uvas verdes, não era época para aquelas uvas
que eu pegava estarem maduras. E toda essa fala, gritos, gesticulando, era para
falar comigo, pedir de que país eu vinha.
Sou de
família paterna italiana, cresci escutando a família falar italiano; estudei
italiano durante a faculdade e alguns anos depois de formada. Retomei meus
livros e cadernos de italiano por seis meses antes da viagem e cheguei lá e
depois de dois dias imersa no idioma, já estava falando razoável. Não imaginava
que saberia falar, que teria essa fluência. Agradável fluência
Roma é um
museu a céu aberto. Em cada esquina, uma ruína, uma história. A Fontana de
Trevi não tinha aquele encanto como nos filmes, e o calor era insuportável
nesse julho de 2010. O sol parecia mais ardente do que o nosso. Há hordas de
turistas por tudo, não se consegue tirar uma foto que não apareça pelo menos
umas cinquenta pessoas. Mas peguei um taxi e o taxista me mostrou uma fachada
de uma casa qualquer que tinha sido projetada por Brunesleschi. Aonde um taxista
poderia me dar uma aula de arquitetura? Se não em Roma, é improvável.
Eu e Andréa
Rodrigues levantamos uma manhã em Florença antes das seis horas da manhã para
encontrar a cidade vazia, tirar umas fotos do rio Arno sem uma multidão e para
ficar à frente na fila de quarteirões para entrar na Galeria Uffizzi.
Tinha me
prometido nessa segunda vez na Itália: nas grandes cidades turísticas, em julho,
não dá para ir. Chega. Mas saí de lá e só lembrei-me da beleza do país e,
esquecendo o que prometi a mim mesma, apareci em Roma em julho do ano passado.
Calor insuportável, o asfalto das calçadas até derretia sob meus pés, multidões
se trompando nas ruas, o ar condicionado não funcionava direito em lugar
nenhum. E mesmo assim, lembro mais do museu etrusco que fui pela primeira vez,
da beleza da vista a partir da Vila Borghese, que ainda não tinha conhecido, da
ópera La Traviata, que assistimos na igreja São Paulo Entre Muros. Roma é
assim: não importa quantas vezes você vá, sempre tem coisas que não viu ainda.
E você sai
irritada de lá, com tanta desorganização, calor, gente, bagunça, promete que
não volta – pelo menos não em julho – por um bom tempo, mas depois esquece
tudo. E passam-se uns meses e já está lá você, suspirando por ela, sentindo
saudades do sorvete que tomou em frente à Fontana de Trevi, só se lembra do
gosto maravilhoso do sorvete, esquece que teve que enfrentar fila, empurrar uns
quantos que queriam passar na sua frente, esquece que teve que esperar horas
para tirar uma foto só com umas dez pessoas aparecendo junto com você. E em
Florença, esquece que teve que madrugar para ficar em uma fila.
Como as
grandes paixões, da Itália lembramos com nostalgia das coisas inesquecíveis, as
outras são comezinhas, não nos impedem de voltar. Para os passionais recomendo
irem à Itália, para os que não são, recomendo ir à Itália, pois para viver a
vida, e não apenas sobreviver, é preciso se apaixonar. Vão para Roma, percam-se
nas ruas estreitas e medievais próximas da Praça de Espanha, da Via Condotti,
do Panteão, comam suas massas, conversem com os italianos, tentem entender seu
jeito exagerado. Sinto-me, sempre, um pouco em casa.
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