No final de
semana passado, fui a Niterói para dar uma conferência de psicanálise e
aproveitei para ir aos museus. Em dois dias, três museus, um em Niterói e dois
no Rio de Janeiro. Sexta-feira e sábado passados estavam lindos dias de sol,
dias perfeitos para ir a museus.
No mirante de Boa Viagem, em Niterói, O Museu
de Arte Contemporânea, o MAC, essa construção circular, como um disco voador, é
por si só uma obra de arte de Oscar Niemeyer. Inaugurado em setembro de 1996,
nesse mês fez exatamente vinte anos que está lá, redondo, com todas suas
janelas a contemplar a Baía de Guanabara. A exposição Ephemera, com peças do
colecionador João Sattamini estão lá para lembrar-nos que “a arte é o espelho
das ilusões”. A arte mostra os enigmas, os medos, o poder e o narcisismo dos
homens. Assim está inscrito na parede. Cito apenas duas que me tocaram muito:
de Waltércio Caldas (1946), uma caixa de couro e veludo com uma coroa de metal
e strass, para mostrar a ilusão do poder. Um homem que se sente um rei, seja um
ou não, está sempre nu, como no conto de Handersen, a Roupa nova do rei. Uma
coroa mostra exatamente isso, como o poder sobe à cabeça. E a segunda obra que
gostei muito é intitulada “Na estrada da vida”. Sobre um pedaço de lona de
caminhão, estão bordadas as frases que lemos nos para-choques de caminhões: nas
curvas de teu corpo, capotei meu coração; só Jesus Cristo salva; viúva é como
grama verde, chora, mas pega fogo, dentre outras. Essa coleção de ilusões,
espelhos da arte e da alma, enche de beleza essa construção sobre o mar.
No sábado de
manhã, fui ao Parque da Cidade. Dizem que é a vista mais linda do Rio de Janeiro.
Do alto do morro, os corajosos pulam de parapente se enfiando no meio dessa
paisagem espetacular. Tirei umas quantas fotos, mas já vou avisando que não
pulei.
E depois
atravessei a Baía de Guanabara de barca e fui caminhando até o Museu do Amanhã.
Outro museu às margens da baía, em que a própria construção já é uma obra de
arte. Inaugurado no final do ano passado, é obra do renomado arquiteto espanhol
Santiago Calatrava. O prédio parece uma nave espacial. Um museu que começa
perguntando a todos seus frequentadores que amanhã estamos construindo com
nosso desmazelo com a terra. Com fotos espetaculares da terra vista do
espaço. “O futuro não está pronto e
acabado. A cada dia, a cada escolha, o rio do Tempo se abre em um delta de
Amanhãs.” Depois da pergunta acima, está lá, impressa na parede, essa
explicação tão poética de que ainda há tempo. E também impressa está a poesia de Vinicius de
Moraes, Rosa de Hiroshima, para lembrar-nos da tragédia atômica: não se
esqueçam da rosa de Hiroshima, radioativa, atômica, sem perfume, sem cor, sem
rosa, sem nada. E também tem uma exposição temporária sobre Santos Dumont,
intitulada “O poeta voador”. É um museu imperdível, se não puderem ir hoje, vão
amanhã ao Museu do Amanhã. Filas para entrar – mesmo tendo comprado o ingresso
online – filas para entrar na lojinha do museu – souvenirs caríssimos, exorbitantes – filas até para sair do museu.
E carregando minha mochila, atravessei a Praça Mauá e fui ao MAR (Museu de Arte
do Rio). A praça estava cheia de gente, revitalizada e prestigiada pelos
cariocas e turistas. Bem policiada, limpa, organizada. No MAR estava tendo
várias exposições. A que mais gostei foi sobre Dona Leopoldina, princesa da
independência, das artes e das ciências. A bela princesa austríaca, que veio ao
Brasil com uma bagagem gigantesca e um séquito de criados, para se casar com D.
Pedro I. No último andar do museu, uma bela vista da Baía de Guanabara.
Depois de tudo
isso, de dois dias em que fui a Niterói para falar de psicanálise e o que mais
fiz foi visitar museus, e viajar pela beleza das construções, pelas imagens,
pelos enigmas e pelas ilusões que a arte propicia, pude fazer a viagem de volta.
Um belo dia de sol não serve apenas para ir à praia, serve para ir ao Museu do
Amanhã. E a praia? Deixei para o domingo. Mas domingo choveu. Então tive que
deixar as praias para um amanhã, em futuro próximo, pois o Rio continua lá. E
continua lindo. E com o novo museu, mais lindo ainda.
Eu, à frente do MAC
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