Bonito é um milagre da natureza.
Muitas cidades do mundo têm como um de seus atrativos a beleza da natureza; em
Bonito não, a natureza é a personagem principal. Ela tem muitos rios, cachoeiras,
aquários naturais, cavernas, bosques, animais. Ela tem peixes e pássaros,
ventos e pastos, e mergulhos em rios de águas transparentes, com os peixes se
esfregando em suas pernas – para quem gosta – e uma arara vem pousar no braço
de sua cadeira, e os rebanhos de gado, no caminho para os passeios, andam ao
seu lado (do outro lado da cerca, claro) e você coloca os pés na terra vermelha
e não no cimento duro ou no asfalto construído pela mão humana. Eu não reclamo
de um bom asfalto, mas em Bonito, por alguns dias, você pode ser transportado
para uma vida mais rural, mais campestre, mais natural. Nem que seja por um
final de semana.
Mas Bonito, em nosso Estado, tem uma
configuração ímpar, além da natureza. É uma cidade internacional. Não apenas
porque nela você topa com turistas do mundo inteiro e escuta muitas línguas –
nenhuma outra cidade do Estado tem isso – mas porque as pessoas que a
escolheram para viver e trabalhar são de vários lugares do mundo. O atendente
na pousada em que ficamos era de Assunção; o dono de uma pousada na qual fiquei
hospedada em outras vezes era argentino. Veio para passear com a mulher e
resolveu viver sua vida de aposentado ali. Priscila, uma psicóloga que conheci
porque veio estudar no instituto de psicanálise que participo, depois de uma
temporada estudando em São Paulo, construiu uma pousada em terras familiares e
está lá, vivendo e trabalhando em Bonito. Minha amiga Graça, pedagoga, com a
qual trabalhei na Secretaria de Educação, em séculos passados, tem uma loja de
artesanato em que aplicou toda sua finesse,
seu estilo, sua delicadeza para transformá-la num mimo que se destaca de todas
as demais lojas.
E também conheci uma mulher que abriu
um museu de contação de histórias. Em quarenta minutos, ela conta a história da
cidade, mostra as fotografias na parede e os objetos da cultura Kadwéu, e conta
a história do bandoleiro Silvino Jacques. E na avenida Pillad Rebuá – que na
semana passada estava sendo organizada para se transformar em mão única –
encontra-se sorveterias com sorvetes de frutas típicas, que só tem aqui em
nosso Estado. E vou confessar: experimentei uma das melhores tortas da vida em
uma doceria que tem a palavra gula no nome do estabelecimento. Para os viciados
em doces, faz jus ao nome. E, entre todas as lojas que vendem camisetas
típicas, uma delas conseguiu estampar nas camisetas as fotos mais lindas dos
passeios de Bonito. Assim, mais do que a riqueza da natureza, tecida em milhões
de anos, a riqueza das boas ideias humanas também está lá.
Para quem mora em Campo Grande, é
relativamente perto. Só dirigir um pouco, nem precisa passar por aeroportos.
Saí com uma amiga no sábado de manhã e voltamos domingo final da tarde. Os
problemas de Bonito: na agência onde fomos marcar o passeio foi demoradíssimo,
pois a atendente falava um perfeito português com um grupo de argentinas
(deduzi que eram argentinas pelo acento do castelhano falado) que queriam
entender os atrativos. Como pode a agência não ter funcionários que falem
espanhol? Depois dessa espera, eu e Silvana decidimos conhecer a caverna São
Mateus. É um atrativo relativamente novo, funciona há cerca de três anos. Já
conhecíamos as outras duas cavernas, do Lago Azul e São Miguel, pedimos ao
funcionário da agência se ele conhecia, se sabia se era bonita. Não conhecia,
não tinha ido lá. E outra coisa que todo mundo comenta: os preços dos passeios
são caríssimos. Mesmo para quem paga em dólar ou euros, para esses menos, mas
mesmo assim são caros. Para fazer jus a esses preços, os serviços em Bonito
precisam melhorar muito.
Ficamos em uma nova pousada, distante
da cidade. Na agência nos explicaram como chegar de um jeito muito complicado,
como não tinha uma placa até a pousada, deve ter sido por milagre que
conseguimos chegar até lá. Mas valeu a pena, pois era linda, verde, cheia de
coqueiros, com chalés muito confortáveis, e piscinas e café-da-manhã excelente.
E o principal: a gruta São Mateus.
Impressionante, difícil de entrar, um buraco pequeno de entrada – se eu
engordasse mais um pouco, o que não é nada difícil, não passava na abertura – e
lá dentro se descortinam formações rochosas que a natureza demorou milênios
para construir. É escura, lisa, é um passeio um pouco aventureiro, mas para
quem já chegou até Bonito, aventura faz parte do pacote. Vale a pena também por
causa de seu guia, que explica tudo sobre a caverna e a conhece em minúcias.
Enfim, alguém que faz seu trabalho do melhor jeito possível.
Bonito é esse milagre, como disse
acima, bem perto da gente. Como muitas coisas na vida, a gente vai longe, mas
por vezes o que precisamos está bem perto.
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