Em dois dias carnavalescos, na
semana passada, li o romance “A las que amamos”, do escritor sérvio Aleksandar
Tisͮma. Escrita densa sobre o desespero humano, retratado na vida das
prostitutas de uma pequena cidade Sérvia. O pós-guerra dos Balcãs, com suas
misérias, de pobreza material, de desesperança e segregações, só é mostrado por
alusões. É o pano de fundo dessa cidade com muitas prostitutas que precisam
ganhar a vida.
É um olhar masculino sobre a
mulher não apenas porque o autor é homem, o narrador da história é um homem. E
desfilam por suas páginas muitas prostitutas, novas e velhas, brancas, morenas
e negras, magras e regordetas – li o romance em espanhol, a tradução da palavra
em português é pior: gorducha, melhor deixar em espanhol.
Eis algumas: Katarina, não mais
jovem, casada com um homem velho, do qual espera a morte, e sai com outros
homens para complementar o orçamento. Com sua habilidade para ver o mal, percebe
a falsidade de todos e a fraqueza dos homens pela beleza. Mas em alguns,
reconhece, o desejo não está nas mulheres belas, e sim na fealdade. Emina, a
jovem forasteira que começa sua vida como prostituta se apaixonando pelo
primeiro homem com o qual se deita. E que, depois, manda a ele um recado que o
ama e que ele não precisa pagar. Berta, que na sua primeira noite com um
cliente, não consegue usar as técnicas da profissão, se envergonha e não tira
toda a roupa, com pudor, e é ele a cair de amores por ela, querê-la só para
ele, exigindo penosas demonstrações do amor. Vera, que esteve ausente da cidade
por dez anos e volta à vida “fácil” na cidade. Não mais tão jovem, tinha um
corpo firme e bonito, era linda, mas com olhos distantes e indiferentes. Os
homens viam nela a frieza e por vezes a trocavam por outra, que não chegava nem
aos pés de sua beleza, mas era mais doce.
São abundantes os comentários
sobre os corpos das mulheres. São os corpos que alimentam o desejo deles? Em um
primeiro momento parece que sim, pois o narrador nos conta de quantas prostitutas
vão perdendo cliente conforme vão ficando regordetas. Porém outras também vão
caindo do lugar de objeto de desejo porque ficam magras demais. Eu fiquei
pensando sobre o desejo desses
personagens masculinos e percebi que dá para fazer uma síntese do que
eles querem: não importa se as mulheres são regordetas ou magras, têm de
ter a pele firme, tem de ter viço. E um olhar cheio de entusiasmo, como Emina,
a jovem apaixonada, pois a prostituta dos olhos tristes é menos interessante. E
além de entusiasmo, ser doce, pois a linda e fria Vera os intimida.
Enfim, carnes firmes e com viço,
olhar entusiasmado, alegre, apaixonada, doce e terna, assim é a prostituta
perfeita na visão do narrador. Qualidades difíceis de serem encontradas todas,
assim, juntas, em uma mulher, prostituta ou não.
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