"....A veces me siento jodidamente mal: cuántas cosas he dejado escapar, coleccionista lleno de agujeros, cuánto he derrochado, olvidado, especialmente allí, en casa. Sólo restan conmigo (em mí?) una especie de patio y pasillos oscuros, buhardillas húmedas, dientes de léon pisoteados, zanjas por llenar, postes pintados de blanco.... Sólo aquí, en otros países, empecé a labrarme todo mi ser, todo lo que soy. Me hundí en abismos salvajes del ánimo, incluso no llegue a alcanzarlos y me dio miedo, tal como me habia pasado en casa, de perderlo casi todo. Al fin y al cabo, así incluso se puede vivir con mayor tranquilidad. Considerar todo lo perdido como superfluo. Todo lo no perdido (una parte minuscula) como indispensable. O sea, ineludible..."
É assim que o poeta ucraniano Stanislav Perfetski vai descrevendo sua vida durante uma viagem de carro entre Munique e Veneza. Passou em Munique a quarta-feira de cinzas e nos mostra nela o primeiro dia melancólico da quaresma. Pega carona com um casal que vai a Veneza e vai escrevendo sobre sua vida de "pleno colecionador de buracos". Seu relato começa dia três de março e já sabemos de antemão, pois nos é contado por um narrador, que no dia dez de março, dia de seu aniversário, se jogará de uma janela de hotel em Veneza, desaparecendo em um de seus canais. Sobre a escrivaninha, estará esse relato que é o romance.
O narrador que, em um preâmbulo abre a estória, antes de começar o relato de Perfetski, é o próprio autor do livro, Yuri Andrujovich, ucraniano e nova voz na literatura do leste. Genial o jeito que ele começa seu romance: colocando um narrador, que é ele mesmo, como um outro, a contar a vida do poeta ucraniano desaparecido em um dos canais de Veneza. Estou quase na metade do livro intitulado Perverzión. Publicado em Barcelona pela Editora Acantilado. E que talvez chegue no Brasil no dia de são nunca.
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