domingo, 23 de outubro de 2011

Uma música para a lagoa

Domingo lindo, Lagoa do Itatiaia repleta de pássaros, gente e cachorros. Os cachorros nadam, as pessoas fazem pequenique e caminham e os pássaros fazem o que querem. Garças, bem-te-vis e quero-queros por tudo. Os nomes desses últimos pássaros se prestam bem para a poesia. Celito Espíndola caminha sempre na Lagoa. Hoje passou olhando para tudo que é lugar, com seu ponto de música no ouvido e o escutei dizer "domingo lindo". E eu me intrometi: faz uma música então Celito! Ele respondeu: vou fazer. Já digo para vocês todos que fiquem sabendo da dívida de Celito. Não comigo, mas com a Lagoa do Itatiaia.

domingo, 9 de outubro de 2011

Todo o mundo

Escrevendo um livro - ou qualquer coisa parecida, talvez um conto, ou só um pequeno texto. Ainda não sei - sobre minhas viagens.
Eis um trecho abaixo......


“Batendo pernas/correr mundo afora/ Vitrine do mundo/ lugares à mão”. Assim começa a letra da música Coração de todo mundo, de Oswaldo Montenegro e Raimundo Costa. Escutei esta música pela primeira vez no disco ainda de vinil, na casa de C.. E gostei tanto que, naquele momento, ele me deu seu disco. Esse forasteiro, em minha vida e na cidade, já gostava mais de Montenegro do que eu. Pelo menos até eu ter escutado esta música pela primeira vez.


À época ainda não tinha corrido o mundo, não conhecia as jóias de Itália, os mares de Espanha, os becos escuros da velha Paris. O mundo para mim era menor, mais familiar. Mais de duas décadas se passaram, fiz muitas viagens, estudei algumas línguas e conversei com pessoas. Fiz amigos em terras longínquas e aprendi que o mais importante em uma viagem são as pessoas que conhecemos, o que conhecemos sobre suas histórias. As pessoas e a história fazem um país.

Nessa música, Coração de todo mundo, que escutei pela primeira vez na casa desse homem, encontrei um desejo que determinou meus caminhos. E encontrei-me com a estrangeira que era para mim mesma. C. apresentou-me isso e também me apresentou essa música.

Agora, mais de vinte anos depois, conto histórias que vivi em lugares distantes de casa. Mais, ainda: fiz do mundo minha casa e fui estrangeira em todos os lugares.

Perdi-me em ruelas do Complexo do Castelo, na Cidade Velha, em Praga; visitei Campos de Concentração; levantei de madrugada, andando pelas ruas de Granada para comprar ingressos para entrar em Alhambra; amei a Cracóvia e sua gente. Odiei Viena e sua gente. Quase apanhei de uma velhinha alemã que achou que seu marido queria me seguir. Em Sevilha comprei tantos souvenirs. Guardo fotografias, desenhos antigos e reproduções da Torre do Ouro pela casa. Tudo para trazer um pouco da cidade comigo, cidade amada de Garcia Lorca, que também trago até hoje em meu coração. Entre Gand e Bruxelas, passei uma primavera. Nela, na passagem de um dia para outro, foram se esvaindo alguns dos dias mais felizes de minha vida. E amei Paris à primeira vista. E a segunda também. E toda vez. Cada vez mais.

Todo o mundo é o que o artista consegue alcançar. Uma bela música que vai da Itália a Xangai, dos mares de Espanha a Paris e a todo lugar. Só um poeta pode cobrir esse infindável território e colocá-lo na palma de sua mão. Para uma viajante, todo o mundo é uma ilusão, pois a cada passo que dá o mundo fica maior, as distâncias maiores e os lugares a conhecer infindáveis. Só pela poesia conhecer todo o mundo é possível, mas mantenho para este livro este título ambicioso, para marcar a ilusão da viajante que espera encontrar um lugar, estrangeiro e familiar onde possa viver. Enquanto esse lugar não chega – se ele chegar - mantêm-se em sua condição errática.

Cracóvia




Foto: Alba Abreu Lima

Na Cracóvia, tudo lembra João Paulo II. E para os psicanalistas, lembra a piada judaica contada por Freud. Um sujeito diz que vai a uma cidade e vai mesmo para ela, mas o outro lhe atribui uma má fé, que ele está escondendo que irá a Cracóvia. Cracóvia, bela, medieval, preservada dos bombardeios. Linda, linda. De todos os ângulos, dentro do Castelo de Wawel, um espetáculo de vista. Que saudade!