domingo, 15 de dezembro de 2013

Hoje morreu Peter O'Toole


Porque te amava, enfeixei vagas de homens nas minhas mãos
e em estrelas escrevi nos céus o meu desígnio
de te conquistar a liberdade, palácio de sete pilares
onde teus olhos brilhariam
talvez por mim quando voltássemos

A morte parecia seguir-me como escrava,
até que me aproximei - e te vi esperando.
Sorriste-me e ela correu avante ciosamente aflita
e assim te arrebatou para a sua quietude.

O amor exausto apalpou tímido o teu corpo
breve prêmio nosso, nosso por um momento.
Antes que a branda mão da terra explorasse
tuas formas e noturnos vermes engordassem devorando tua substância

Pediram-me que a nossa obra, casa inviolada, eu a erguesse em memória de ti.
Mas, para melhor exaltar, espedacei-a inacabada e agora lembranças furtivas
se conjugam e serpenteando se inflitram
nas ruínas, nas sombras do dom que me deste.

Thomas Edward Lawrence.

Este poema, que compôe 7 Pilares da Sabedoria, eu recitava de cor na minha adolescência. Depois de assistir Lawrence da Arábia, quis saber quem era esse britânico que lutou ao lado dos árabes, pela causa deles, que também virou sua. Imaginava que era por amor a S.A. Imaginava que fosse uma mulher. Parece-me, descobri depois, que não era. Hoje não importa o sexo de S.A., homem ou mulher, por ele Lawrence mudou sua causa, sua vida, seu destino.
E além disso, temos que lembrar que o amor não tem sexo.
Lembro isso hoje porque morreu Peter O'Toole, que magistralmente interpretrou Thomas Edward Lawrence no cinema.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Coleccionista lleno de agujeros

"....A veces me siento jodidamente mal: cuántas cosas he dejado escapar, coleccionista lleno de agujeros, cuánto he derrochado, olvidado, especialmente allí, en casa.  Sólo restan conmigo (em mí?) una especie de patio y pasillos oscuros, buhardillas húmedas, dientes de léon pisoteados, zanjas por llenar, postes pintados de blanco.... Sólo aquí, en otros países, empecé a labrarme todo mi ser, todo lo que soy. Me hundí en abismos salvajes del ánimo, incluso no llegue a alcanzarlos y me dio miedo, tal como me habia pasado en casa, de perderlo casi todo. Al fin y al cabo, así incluso se puede vivir con mayor tranquilidad. Considerar todo lo perdido como superfluo. Todo lo no perdido (una parte minuscula) como indispensable. O sea, ineludible..."
É assim que o poeta ucraniano Stanislav Perfetski vai descrevendo sua vida durante uma viagem de carro entre Munique e Veneza. Passou em Munique a quarta-feira de cinzas e nos mostra nela o primeiro dia melancólico da quaresma. Pega carona com um casal que vai a Veneza e vai escrevendo sobre sua vida de "pleno colecionador de buracos". Seu relato começa dia três de março e já sabemos de antemão, pois nos é contado por um narrador, que no dia dez de março, dia de seu aniversário, se jogará de uma janela de hotel em Veneza, desaparecendo em um de seus canais. Sobre a escrivaninha, estará esse relato que é o romance.
O narrador que, em um preâmbulo abre a estória, antes de começar o relato de Perfetski, é o próprio autor do livro, Yuri Andrujovich, ucraniano e nova voz na literatura do leste. Genial o jeito que ele começa seu romance: colocando um narrador, que é ele mesmo, como um outro, a contar a vida do poeta ucraniano desaparecido em um dos canais de Veneza. Estou quase na metade do livro intitulado Perverzión. Publicado em Barcelona pela Editora Acantilado. E que talvez chegue no Brasil no dia de são nunca.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Morre Nelson Mandela

Chego em casa parecendo um final de dia normal, 19hs da noite, quarenta e tantos graus de calor, vento fraco, ligo a TV e fico sabendo que Nelson Mandela morreu.
Estava doente, cansado, já tinha declarado que sentia que toda sua meta no mundo tinha sido cumprida, porém a sensação para mim é de orfandade.
William Bonner, nesse jornal rasteiro, diz que ele foi quem foi menos por ser de esquerda do que por defender a liberdade para todos. Alguém imagina que qualquer hotentote decente, contra a segregação, o racismo, a violência infringida por um governo totalitário, poderia não ser de esquerda na África do Sul dos anos 60?
Existe algum homem que tenha saído da prisão depois de 27 anos e tivesse se tornado uma pessoa melhor? Com esperanças, ideais, mais conciliador?
Que depois de décadas preso, saiu e viveu muito, foi o pai de uma nação, separou, amou novamente, casou-se, viajou, conversou com os maiores líderes. Deu uma lição de como um homem que faz laços sociais deve ser.
Agora estou escutou o DVD do show de tributo a ele, que reuniu os maiores cantores do mundo.
Para mim ele foi a grande personalidade do Século XX. Um homem ímpar