quinta-feira, 30 de maio de 2013

"Todo tempo feliz é filho ou neto da separação"


Rainer Maria Rilke escreveu isso em seus Sonetos a Orfeu. Depois de passar dez anos esperando escrever algo que não sabia o que era, mas tomado por uma ideia de algo importantíssimo que teria de ser escrito, e sem conseguir escrever uma linha, saíram esses sonetos. Li os comentários de um crítico literário e ele escreveu que Rilke vivia um tempo de aridez criativa. Podemos chamar de aridez essa impressão que um escritor sente de que tem algo a escrever, que se prepara para isso, que está submetido a uma ideia que não sabe bem o que é, que escreve outra coisa e sabe que não é isso¿ É como uma gestação, vai se encaminhando semana a semana em direção à obra. Uma gestação literária que demorou dez anos para parir. Que angústia deve ter sentido! Paciência é tudo, o conselho que ele deu ao jovem poeta se aplicou a ele também.

E depois escreve esses que são os mais belos sonetos que já li. Orfeu, o que vive à procura da amada, que faz por ela todos os esforços e morre em seu fascínio por Eurídice.

Sabemos da paixão que Rilke declarou por Lou-Andréas Salomé, a russa. Escreveu para ela as palavras mais lindas que um homem pode escrever a uma mulher.  Apaga-me os olhos: ainda posso ver-te, tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te. E continua para, no fim do poema, afirmar que a traz em seu sangue. E em outro escreve que o amor de um ser humano por outro é a experiência mais difícil para cada um de nós, “o mais superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são ensaios”.

Dez anos antes desses Sonetos a Orfeu foi com Salomé à Rússia, se preparou para essa viagem, aprendeu russo. E não esqueceu nunca a Rússia. Nos sonetos cita essa viagem “Lembro-me de um dia de primavera na Rússia\Um cavalo às escuras...”. Uma viagem da qual nunca esqueceu, um amor russo, uma primavera.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sobre amores e exílios

 
 
Capa de meu novo livro.
Coloco abaixo o release que Renato Lima fez sobre ele.
 
 
Andréa Brunetto lança o livro "Sobre amores e exílios"
 
 
“A honra da literatura é evi­denciar que o homem não é a “fina flor da criação” – essa é a ilusão de seu ser religioso – e sim Sicut pa­lea, isso que Lacan almejava que um analista descobriria ser ao fi­nal de sua análise: nada, dejeto, estrume. E dessa condição de “exi­lado das coisas“, de falta do obje­to, seu ser de desejo pode emergir. Isso é o que melhor a literatura nos mostra. Um mundo de desejos incandescentes, como de forma tão linda Vargas Llosa escreve. Então, por que alguém escre­ve? Cada romancista tem seus mo­tivos. Salman Rushdie, o escritor indiano-mulçumano, autor de Os versos satânicos, alega que escreve para preencher o lugar esvaziado de Deus; Marguerite Duras para cons­truir um exílio, uma pátria do verbo, “uma pátria sem terra, sem nação, a mais sólida do mundo, a mais indes­trutível”. (Andréa Brunetto)
 
Apai­xonada pela psicanálise, apaixonada pela literatura, Andréa Brunetto transparece essa paixão em to­das as páginas deste livro que, como diz o título, está na fronteira entre uma e outra. Fiel ao preceito de Lacan de que o psicanalis­ta não deve tentar encontrar, a partir de sua obra, as neuroses de um autor, ela se vale dos textos de renomados escritores – como Freud fez com a Gradiva, de Jensen – para ensinar aquilo que o romancista revela, de­monstrando o que ela nos anuncia nas pri­meiras páginas: de que a psicanálise pouca importância tem para a literatura, mas esta tem muito valor para o analista.
Tomando-nos pela mão, Andréa nos faz com­panheiros e confidentes da viagem através desse litoral como se estivesse conversando conosco e tornando-nos cúmplices do seu ar­rebatamento para mostrar como, tanto no amor como no exílio, somos todos estrangei­ros, “desterrados do país-infância”, exilados do inconsciente e habitantes dessa outra cena. Por isso ela pode passear por autores e lugares tão diversos como Imre Kertész, Elfried Jelinek ou Orhan Pamuk, entre ou­tros, e Auschwitz, Viena ou Istambul, evi­denciando que não só a psicanálise, mas também a literatura não tem pátria nem fronteiras.
Porém, não nos enganemos com essa aparente simplicidade. Ela é fruto de uma extensa lei­tura e grande familiaridade com todos os es­critores citados, tanto de um território quanto do outro, evidenciando que o gosto pela lite­ratura que herdou do pai – como nos infor­ma logo nas linhas iniciais – foi inteiramente conquistado por ela (segundo a recomendação freudiana), pois assumido como um desejo seu e “anexado” àquele pela psicanálise.
Viajando por tantas terras, este livro é uma carta-letra que sem dúvida chegará ao seu destino. (Andréa Rodrigues)
 
 
LANÇAMENTO:
Todos estão convidados para o próximo dia 14 de junho, acompanhar o lançamento deste livro em um coquetel que será realizdo às 20h30, no Grand Park Hotel, em Campo Grande. A entrada é gratuita.
 
SOBRE A AUTORA:
 Psicanalista, psicóloga, membro (AME) da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, funda­dora do Ágora Instituto Lacaniano, de Campo Grande. Autora de Psica­nálise e educação: sobre Hefesto, Édi­po e outros desamparados dos dias de hoje (UFMS, 2008). Escreve, publica e apresenta traba­lhos na interface da psicanálise com outros saberes.  Atualmente é conselheira do CRP14, coordenando a Comissão de Ética.