terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Mais um livro de Amós Oz

                                                                

                                                                  UMA CERTA PAZ



“Um dia um homem se levanta e muda de um lugar para outro. O que ele deixa atrás de si fica para trás e só lhe vê as costas. No inverno de 1965, Ionatan Lifschitz resolveu abandonar sua mulher e o kibutz onde nascera e crescera. Decidiu sair e começar uma nova vida”. Assim começa o livro Uma certa paz, de Amós Oz, recentemente lançado no Brasil, mas escrito pelo autor em 1982. Por que tanta demora em publicar esse primor de obra no Brasil? É um dos melhores livros dele. Seu personagem é mais deslocado que os outros, desterrado, sem lugar. Procurando um lugar menos árido para viver, um amor menos árido, “um lugar entre os lugares distantes nos quais tudo é possível e tudo pode acontecer – uma súbita conquista, amor, perigos, estranhos encontros”. No Kibutz nada acontece, nenhum espaço para liberdade, nenhum lugar para a individualidade, só refeições coletivas, férias determinadas por todos, problemas pessoais resolvidos nas reuniões com todos. Enfim, o plano de Ionatan era viajar para um lugar que menos se parecesse com um kibutz.

É um livro triste, cruel. Os personagens dizem que ninguém ama ninguém. Mesmo no kibutz. A história começa no inverno. Nele, o narrador nos avisa que Ionatan vai embora, mas ele só consegue fazê-lo quando chega a primavera. E mesmo tendo avisado a todos que iria, todos se organizam para procurá-lo, a polícia é avisada, o exército onde ele servira no passado também. Seu pai contata até o primeiro-ministro para que não meça esforços para encontrá-lo. E assim, nós, leitores, realmente acreditamos que ele era um prisioneiro, sem liberdade para decidir nem uma viagem.

Mas somos enganados, pelo menos aqueles leitores que não entendem o hebraico e que, de imediato, não relacionam que o próprio nome do romance mostra que o personagem caminha para a morte. Em hebraico o título é Menuchá nechoná, termo que aparece na primeira frase da prece pela alma da pessoa falecida. Ionatan escapa do kibutz e em vez de ir à procura de uma dessas cidades do mundo onde os encontros seriam possíveis – ele listou muitas em seus pensamentos - caminha para Petra, pretendendo rumar sozinho pela fronteira com a Jordânia e passar por um deserto repleto de atalahs. Morte certa.

A estória é contada no inverno e depois na primavera. “O inverno sucede ao verão, e o verão vem depois do inverno”. É um livro sobre a passagem do tempo, sobretudo o tempo perdido, desperdiçado: “o coração grita de tristeza pelo tempo que havia e que se foi e ninguém devolverá a mim e a você a vida que poderia ser e não foi”. E Amós Oz vai mostrando vários personagens que deixaram o tempo passar, como, por exemplo, Srulik que ama em segredo uma mulher há 25 anos.

‎Pergunto-me se a verdadeira tristeza não é viver em Israel. Creio que isso é dito por alusão. Uma terra onde os personagens vivem como em um exílio, "Um laivo de estranheza, de saudade. Uma tristeza sem endereço. Como se isso também fosse o exílio. Sem um rio, sem uma floresta, sem os sons dos sinos. Que eu amava. Assim mesmo, sou capaz de fazer comigo mesmo um balanço frio, exato, um balanço histórico e também conceitual e também pessoal".

É uma história sobre viver em um não-lugar, em que um povo começa uma história em um “rascunho de um país novo....que traz atrás de si uma geração de mortos”. Enfim, seu kibutz, sua Israel é “Um lugar que é todo ele uma declaração de intenções, com esperança febril, ofegante, junto com uma torrente de boa vontade para abrir imediatamente uma nova página em todos os aspectos da vida. Não uma árvore, mas apenas mudas novas, pálidas; não uma casa, mas apenas tendas e cabanas e duas ou três construções de concreto, caiadas de branco”.

Pensando bem, se o tempo desintegra tudo, por outro lado, ele traz uma esperança que um futuro possa ser construído. Enfim, estou usando o Oz da esperança para amenizar o Oz desterrado, que sucumbe aos amores perdidos, à vida em um lugar sem árvores, pontes, sem amor.

Leiam! Leiam. É uma bela metáfora do que é o sujeito: deslocado, estrangeiro, excluído das coisas.

Le plat pays qui n´est pas le mien

Damme, a cidade com vista para o Mar do Norte.

Do alto da torre da igreja, vejo ao longe a cidade de Bruges e a minha esquerda o mar do Norte. O vento cortante da primavera belga fica mais forte do alto. Nesse país plano, sem montanhas, que não é o meu, fico lembrando da música de Jacques Brel. Em Damme há um museu para contar a história de seu personagem mais conhecido: Thyl Ulenspiegel. É um personagem meio lenda, estilo um Dom Quixote, que lutou contra o domínio dos espanhóis sobre Flandres. Nesse museu há dezenas de quadros de pintores importantes, como Brueghel e outros que representam o tal Ulenspiegel. Quando cheguei ao Brasil, vi que o Grupo Galpão estava encenando uma peça sobre o Thyl Ulenspiegel e dizendo que era mitologia alemã. Errado, errado. É belga. Jacques Brel, se estivesse vivo, iria dizer: é de la Belgique, c´est plat pays qui est le mien.

Foto: Andréa Brunetto
Do alto da catedral, sentindo o vento do mar do norte no rosto, por uns momentos, a Belgique foi um pouco minha também. E eu a quis, mesmo com a primavera gelada.


Avec la mer du Nord pour dernier terrain vague
Avec des cathédrales pour unique montagnes

Et de noirs clochers comme mâts de cocagne


Où des diables en pierre décrochent les nuages

Avec le fil des jours pour unique voyage

Et des chemins de pluies pour unique bonsoir

Avec le vent d'ouest écoutez-le vouloir

Le plat pays qui est le mien

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Afresco de Pompéia

Foto Alba Abreu Lima
No Museu Arqueológico Nacional, em Nápoles, estão os afrescos que sobreviveram à destruição de Pompéia. E restaram muitos, belissimos, bem conservados nesse museu que é um primor de cuidado com as obras - bem mais que a Galeria Uffizzi. Há salas e salas com as pinturas vesuvianas, com cores fortes, vermelho abundante; a natureza é retratada exuberante. Flora, um afresco que sobreviveu, deve ter inspirado Boticcelli. Parece as mulheres desenhadas por Boticcelli, por isso digo, sem nenhuma pesquisa sobre o assunto.

Um inverno em Bruxelas

No frio, e longe da Grand Place, bem poderia ser Frankfurt ou Nova York. A foto preto e branco mostra mais ainda o inverno, a ausência de pessoas, que se escondem do frio, do vento; uma rua quase sem carros, sem folhas nas árvores, sem sol, quase sem luz. Sem você.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Roma

Foto Alba Abreu Lima

Em cada esquina, uma ruína, uma história. Um museu à céu aberto. A Fontana de Trevi não tinha aquele encanto como nos filmes, e o calor era insuportável. Mas o taxista me mostra uma fachada de uma casa qualquer que tinha sido projetada por Brunesleschi. Aonde um taxista poderia me dar uma aula de arquitetura? Se não em Roma, é improvável.

Monschau

Um dia feliz em Monschau.


Na província da Renânia do Norte-Vestfália, está a pequena cidade parada no tempo. Atravessada pelo rio Ruhr, no vale do Eifel, longe do turismo ostensivo das grandes cidades alemãs, senti-me no Século XIII. Subi na montanha, alta, subi, subi, subi e de lá, das ruínas de um castelo do século XIII, olhei o vale. Poderia estar em um romance de Thomas Mann. Poderia ser o que quisesse. Depois desci, é claro!!!!